quarta-feira, 7 de novembro de 2012
Prefeituras em crise: Procuradoria analisa hoje relatórios sobre desmonte
Até a próxima sexta-feira, fiscais do TCM cumprem agenda de fiscalização em mais municípios cearenses
Iguatu/Sobral
A Procuradoria de Justiça dos Crimes Contra a Administração Pública
(Procap) começa hoje a analisar os primeiros relatórios da fiscalização
especial de prevenção de desmonte de prefeituras apresentados pelo
Tribunal de Contas dos Municípios (TCM). Inicialmente, foi repassada
documentação referente aos municípios de Coreaú, Jucás, Barroquinha,
Ibiapina, Antonina do Norte e Granja.
Igreja
Matriz de Cruz, município onde a Prefeitura cumpriu o encerramento de
contratos de terceirizados, provocando reclamação dos mesmos FOTO:
HONÓRIO BARBOSA
A reunião entre os representantes do TCM
e os integrantes da Procap foi realizada na tarde de anteontem, na sede
da Procuradoria Geral de Justiça. Na ocasião, foram entregues quatro
relatórios e hoje serão enviados os dois restantes. "Somente a partir de
hoje vamos nos debruçar sobre esses relatórios", disse o promotor de
Justiça, Herton Cabral. "Preliminarmente, obtivemos a informação de que
não foram encontradas gravidades, conforme ocorreu em anos anteriores".
Os
fiscais do TCM recomeçaram na segunda-feira, por Ararendá, Tianguá e
Crato, o trabalho de fiscalização e prevenção de desmonte. Hoje, estarão
em Itatira e Uruoca. A visita técnica nestes municípios prossegue até a
próxima sexta-feira.
A Procap dispõe de três promotores de
Justiça, além do coordenador, Maurício Carneiro, para a análise dos
relatórios técnicos de fiscalização do TCM. "Havendo irregularidade
graves, vamos agir de imediato. Os maiores problemas são referentes à
demissão de pessoal", disse Herton Cabral.
Para o assessor da
Procap, em caso de paralisação de serviços de saúde e de educação
configura-se ação de desmonte. "Unidades de saúde sem médicos e
enfermeiros e escolas e creches sem professores é uma situação grave",
observou. "Isso é preocupante e vamos agir".
Até ontem, pela
manhã, a Procap havia recebido 25 denúncias. "Houve um refluxo em
relação a quatro anos atrás quando houve eleições municipais e mudança
de gestores. Observamos que os gestores estão mais preocupados e
conhecedores de suas responsabilidades", disse ele.
O presidente
do TCM, Manoel Veras, afirmou que o trabalho de fiscalização vai
continuar por tempo indeterminado. "Não temos previsão de encerramento",
disse. "Vai depender das denúncias que foram chegando e da avaliação em
conjunto com a Procap", completou.
Manoel Veras avalia também
que, neste ano, a situação está mais calma, em comparação com períodos
anteriores. "Os gestores estão receosos e temem a legislação, que é
rigorosa, e creio que isso contribui para a ocorrência de problemas
verificados no passado", observou.
"É preciso separar
desorganização administrativa de desmonte, que inclui dívidas elevadas,
serviços de saúde paralisados, salários em atraso por dois ou três
meses", afirmou ele.
O presidente do TCM preferiu não falar sobre
casos específicos e denúncias de paralisação de serviços de saúde e
educação em alguns municípios. "Cada situação precisa ser verificada e
as denúncias apuradas", disse. "Não vamos emitir opinião antes de
verificar documentação e relatório fruto da fiscalização".
O
temor de gestores públicos que não foram reeleitos ou não fizeram
sucessor nas eleições de 3 de outubro passado, de não conseguirem deixar
recursos em caixa para o pagamento da folha de dezembro, vem provocando
demissões de servidores contratados temporariamente ou terceirizados em
municípios do Interior. Esse fato provoca a paralisação parcial ou
total de serviços de atendimento à população e pode ser considerado como
desmonte da máquina pública.
O presidente do Tribunal de Contas
dos Municípios (TCM), Manoel Veras, e o promotor de Justiça, Herton
Cabral, da Procuradoria dos Crimes contra a Administração Pública
(Procap), confirmam que há obrigatoriedade de existência de recursos em
caixa para o pagamento da folha de servidores referente ao próximo mês
de dezembro, em janeiro próximo. Além disso, os municípios devem pagar o
13º salário até o dia 20 do próximo mês.
Essas despesas, aliadas
à desorganização administrativa e a outros gastos verificados nos
últimos dois meses, podem deixar alguns municípios em situação de
dificuldades financeiras. "Até agora só temos informações de afastamento
de servidores", disse Cabral. Na próxima semana, o TCM deve entregar à
Procap, relatório de fiscalização feitas nos municípios de Icó,
Uruburetama, Acopiara, Baturité, Pacajus e Santa Quitéria.
Manifestação
Apesar
da lista do TCM e da fiscalização, as mídias locais têm levado aos
moradores notícias como demissões em massa de contratados. Em Cruz,
blogs e radialistas têm noticiado a demissão de mais de 800 funcionários
terceirizados, incluído grande parte dos professores de escolas
públicas municipais e servidores da área de saúde.
Em seu blog e
programa radiofônico, o radialista Jhonata Adams noticiou uma grande
manifestação em praça pública contra o ato da administração. Além disso,
os pacientes de Cruz estariam sendo todos levados para Acaraú,
município vizinho, superlotando o atendimento.
De acordo com o
atual prefeito Jonas Muniz, o que houve foi apenas o fim do contrato de
terceirizados, já previsto pelas cláusulas dos mesmos. "Quando eles
foram contratados, sabiam que iriam apenas até dia 31 de outubro, pois
depois chamaríamos os concursados aprovados, o que de fato aconteceu",
explicou.
Já na parte dos funcionários de saúde, Jonas disse que
não aconteceram demissões. Porém, os pacientes com procedimento ainda
não ofertados na cidade estão sendo encaminhados para Acaraú, da mesma
maneira que este município vizinho encaminha para Sobral os casos de
enfermidades ainda não tratadas na própria cidade.
Em Acaraú, o
coordenador da Atenção Básica de Saúde do Município, Denis Moreira
Júnior, disse não haver relatos por parte dos funcionários sobre aumento
de demanda.
De acordo com a coordenação do Hospital Doutor Moura
Ferreira, não existe ainda dados que comprovem o aumento de pacientes
atendidos. Só na próxima semana será possível averiguar. A cidade de
Acaraú também foi alvo de críticas pela imprensa da cidade, que
denunciava a demissão de funcionários da saúde e da educação.
De
acordo com a coordenação do Recursos Humanos da Prefeitura, tiveram
apenas duas baixas na equipe de médicos que saíram por terem sido
aprovados em outros concursos.
Fiscalização
6
municípios já tiveram documentos repassados à Procap para início da
análise: Coreaú, Jucás, Barroquinha, Ibiapina, Antonina do Norte e
Granja.
Prefeito Jonas Muniz |
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