sexta-feira, 2 de novembro de 2012
Sr. Antonio Jacinto e Dona Júlia Brandão
História de vida de
Júlia Brandão de Souza
Aos 03 dias do
mês de agosto de 1923, nascia na localidade de Tope, na época pertencente ao
Município de Acaraú, Júlia Brandão de Souza, filha de Antonio Pereira de Souza
e Raimunda Áurea Brandão.
Filha de agricultores,
de família muito humilde, desde muito cedo a vida a ensinou como enfrentar os
obstáculos, barreiras, dores e tristezas que o destino lhe reservava.
Aos 9 anos no
auge de sua infância enfrenta sua primeira e talvez uma das mais dolorosas
provações. Morre de parto sua mãe, fazendo com que assim toda a estrutura de
sua família fosse abalada.
O pai, sr.
Antonio Pereira ao depara-se com esse fato e com todos os filhos para criar,
chegou a pedir aos parentes que o ajudassem, pois não teria condições de assumir
sozinho toda aquela responsabilidade. Sendo assim, acabou entregando seus filhos
ao seu pai e irmãos.
Júlia morou
com seu avô que a maltratava a ponto de ter que voltar a casa de seu pai. Pouco
tempo depois, por não ter estrutura para cuidar de sua filha a entregou aos
cuidados de sua madrinha Alice, esposa de Geraldo Pereira. Lá morou por algum
tempo até que seu pai conseguiu se reestruturar novamente. Já havia casado novamente e
iria tomar conta de uma fazenda de gado em Aroeiras.
Trabalhou na
agricultura, cuidava dos animais, ajudava nos afazeres de casa, assim foi sua
infância. No lugar das bonecas, seus irmãos pequenos para cuidar, no lugar da
escola, as tarefas ordenadas por seu pai e por sua madrasta. Assim foi sua
infância, muito trabalho, incerteza e sofrimento.
Em 1940
conheceu e casou com Antonio Manoel de Souza. O casamento aconteceu na Capela
de Carrasco – Bela Cruz.
Seu esposo era
também um homem simples, morava na localidade de Correguinho, na época
pertencente ao município de Acaraú. Lugar este onde passaram a morar e onde
constituíram sua família. Ele trabalhava na agricultura e em currais no mar.
Sua lida iniciava ainda de madrugada, e ela sempre junto, preparando o café,
organizando os filhos que também o ajudavam, cuidando da casa e costurando para
os amigos e vizinhos para garantir uma renda extra. Era trabalho dia e noite.
Era necessário garantir o sustento dos filhos, filhos estes que eram gerados
ano a ano. Iniciou com Maria Brandão de Souza que nasceu dia 06 de janeiro de
1941 e se estendeu por vinte e quatro anos, até que em 1965 nasceu Sebastião
Marques de Souza, a caçula de todos.
Os dois, Júlia
e Antonio eram analfabetos, mas sempre muito preocupados com a educação de seus
filhos. Mantiveram por muitos anos em sua casa professoras que contribuíram
para o aprendizado e educação daquelas crianças. Eram elas: Otacília, Doura,
Zuleide, Lidia, Maria do Carmo Silveira, dentre outras.
Em 1957, mas
uma notícia desagradável lhe abala, seu pai anuncia que ia embora para Goiás,
levando com ele todos os irmãos. Sentiu-se tentada a acompanhá-lo, mas
desistiu.
Eram muitas as
saudades. Apesar da infância difícil, as lembranças não a poupavam.
Em 1969, mais
uma vez o destino lhe faz passar por uma grande tristeza: falece em Goiás o seu
pai. Era uma grande perda. Mas não podia deixa-se abater. De um lado a tristeza
profunda, do outro, uma família enorme, a solução mais uma vez era buscar a
superação.
Sempre foi uma
mulher determinada, de fibra. Uma pessoa de muita fé, batalhadora e acima de
tudo uma esposa fiel, uma mãe dedicada, um ser humano incrível.
O tempo foi
passando, os filhos cresciam e já estavam prontos para casar.
Júlia como mãe
zelosa que era sempre procurou repassar seus conhecimentos principalmente as
filhas. Pensando no futuro ensinava a cada uma delas, alem dos afazeres
domésticos o seu oficio. Praticamente todas aprenderam a costurar podendo assim
depois de casadas ajudarem o marido na renda familiar.
Os anos iam
passando, e muitos dos filhos já haviam casado. Suas responsabilidades
diminuíam, mas mesmo assim a preocupação com cada um era percebida em suas
conversas, no seu olhar e em suas atitudes.
Apesar de seu
zelo e dedicação existem coisas que não dependem de nossos desejos, no ano de
1986 morre José Marques esposo de sua filha Socorro. No seguinte ano seria a vez de sua filha Maria
Brandão de Souza. Nestes dois momentos só a forte presença da fé em Deus, o
apoio do marido e dos filhos a fizeram continuar na batalha.
Em 1989,
depois de quase todos os filhos casados, o casal Júlia e Antonio resolveram
morar em Caiçara.
Em 1990, já
nos preparativos para as Bodas de Ouro, adoece repentinamente o seu genro Izaú,
esposo de Alaíde Brandão de Souza Albuquerque. Tiveram que adiar a cerimônia.
Dez anos se
passaram e mais uma vez o aniversário de casamento se aproximava. Desta vez foi
adiado devido ao falecimento de seu genro Izaú.
Em 1998 já com
idade avançada é tomada por uma doença que a levou a passar um mês internada em
hospitais em
Fortaleza. Durante este tempo ficou por alguns dias na UTI, os
médicos já não davam mais esperanças. Mas como mulher guerreira que sempre foi
conseguiu mais uma vez vencer e superar a doença.
Em 2004 mais
uma vez sua saúde foi abalada. Teve um AVC. Mais uma provação, mais uma
oportunidade dos filhos mostrarem que haviam aprendido todos os seus
ensinamentos. Com muito amor e dedicação cuidaram, vigiaram, estiveram sempre
atentos a cada momento, a cada alteração, a cada melhora, a cada sintoma. E
assim graças à fé, graças ao amor e dedicação de cada um e graças a sua garra conseguiu
vencer mais este obstáculo.
Dezembro de
2010, mais uma crise, desta vez por conta da idade e por conta de tudo que já
viveu, a doença comprometeu muito, a deixando bem debilitada.
Em maio de
2012, mais uma recaída, mais uma crise. Foi neste momento que sua saúde foi
mais comprometida.
Em todo este
tempo, seu esposo Antonio Jacinto esteve ao seu lado, teve também seus problemas de
saúde, suas tristezas, mas sempre junto. Sempre a respeitando e amando
incondicionalmente. Era um homem brincalhão, os filhos que os acompanharam
lembram sempre do seu bom humor.
Antonio sempre
em suas brincadeiras a convidava para ir embora, para ir pra junto de Deus e 96
dias antes do falecimento de Júlia, falece em sua casa Sr. Antonio. E como ele
sempre dizia, lá estava indo preparar um lugar no céu para sua esposa amada.
Era visível a
vontade de Júlia permanecer entre nós, de cuidar de seus filhos, de mesmo que
só observando está presente na vida de cada um. Mas sabemos que sua missão foi
concluída. Deus a quis junto dele. E para nós, ficou os ensinamentos, toda a
sabedoria, os princípios que ela procurou repassar desde o primeiro filho ao último dos bisnetos.
Exemplo de
vida, exemplo de amor a família, de respeito ao próximo. Assim foi a vida de
Júlia, ou melhor, deste casal, que após 72 anos de casados, não é possível de
serem citados em separados.
Sabemos que o
tempo corre, mas quem nos marcou profundamente não é esquecido, não morre,
porque sobreviveu na memória da gente.
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