quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Novos padres tentam inovar e resgatar valores perdidos

No último dia da série especial, padres recém-ordenados reconhecem desafio de dar novo vigor à Igreja
Para Francisco, renovar a Igreja significa, também, voltar às suas origens, em que se prezava pelo auxílio aos que necessitam

"Dar o nosso ´sim´ para dizer que ainda há esperança na humanidade, em uma sociedade tão desvalida como a que vivemos hoje, parece nadar contra a correnteza". É dividido entre a certeza das dificuldades e a perseverança que Francisco Martins vê o futuro que tem à frente. Apenas um dia depois de se tornar sacerdote na Capital, aos 34 anos, ele sabe das responsabilidades, dos sacrifícios e das batalhas que o ofício guarda, especialmente nos dias atuais. Ainda assim, não hesitou em tomá-los para si.

O padre Jean Fernandes se preocupa em corresponder à realidade de hoje. Para isso, acredita ser necessário o trabalho com a juventude. Foto: Helosa Araújo
Na noite de ontem, juntamente a sete jovens cearenses, Francisco foi ordenado padre pela Arquidiocese de Fortaleza. A data marcou o fim de oito anos de estudo e o início do trabalho para fortalecer a fé nas paróquias do Estado. Tarefa essa que colocará em prática diante da presente conjuntura da Igreja Católica.

Por vezes foge da compreensão de parte da sociedade o que leva pessoas tão jovens a optarem pelo sacerdócio como projeto de vida. Para Francisco, no entanto, a escolha é fruto apenas do sentimento comum de cuidar e ajudar o próximo. "Nosso objetivo maior é cuidar do povo, ensiná-lo a se amar e se respeitar", ressalta ele.

Chamado

A vocação para a vida sacerdotal sempre existiu em Francisco e, em certo momento, falou mais alto que quaisquer outras vontades. Mais que os planos de trabalhar com o pai na área de usinagem e, quem sabe, construir uma carreira. Mais que o desejo de dar continuidade ao namoro de dois anos. Ser padre havia se transformado em dever.

"Parece que Deus vai inclinando nosso coração para isso. Ele chamava e estava na hora de responder a esse chamado. Eu pensava no que poderia fazer para mudar a humanidade, que está tão sofrida, tão fragmentada. Queria ajudar as pessoas a preencherem as lacunas das vidas delas", diz.

Se, para Francisco, perceber o caminho que se apresentava foi natural, para Jean Fernandes, que se preparava para a ordenação de ontem à noite, reconhecer a mesma vocação exigiu tempo e reflexão.

Na adolescência, afastou-se da Igreja e só voltou a frequentá-la aos 16 anos, quando, também por convite da mãe, entrou para um grupo de oração da Comunidade Shalom, em Natal, Rio Grande do Norte, cidade onde nasceu. "Para minha surpresa, lá encontrei a felicidade que não encontrava antes", conta.

Contudo, só mais tarde resolveu participar mais ativamente da Igreja. A experiência serviu para discernir e amadurecer a orientação eclesiástica.

Com apenas um dia de sacerdócio, ambos já têm noção do que os espera à frente. Em suas mãos, está a responsabilidade de colocar em prática as mudanças condizentes com o novo pontificado. Primeiramente, a necessidade de discutir e lidar com os problemas que afligem a sociedade dos dias de hoje.

Voltar às origens
Conhecedor das periferias da Capital, onde mora e trabalha atualmente, Francisco vê no cotidiano o sofrimento causado pela pobreza, pela desintegração do ambiente familiar, a expansão do tráfico de drogas e da violência nas ruas e a corrupção política. Por isso, diz que ser padre é ir na contramão dos rumos para os quais o mundo tem se dirigido. "Nosso papel fundamental é dizer para a sociedade que ela ainda tem jeito, que ainda pode ser melhor", acredita.

Francisco Martins descobriu a vocação sacerdotal ainda jovem e foi ordenado ontem FOTO: BEATRIZ BLEY

Na visão do sacerdote, renovar a Igreja significa, também, voltar às suas origens, em que se prezava pelo auxílio aos que precisam de ajuda e pela propagação de valores como a solidariedade e o respeito em contraposição ao individualismo e aos interesses particulares.

Já para o padre Jean Fernandes, inserir-se na nova realidade e corresponder à ela é uma das maiores preocupações. Recém-ordenado e em sintonia com o pensamento da juventude de hoje, o sacerdote diz perceber que trabalhar com os jovens, conhecer suas demandas e se aproximar de seus pensamentos, pode ser a principal forma de dar vigor à Igreja Católica.

"O jovem dá vida à Igreja. Mas para atingir essa juventude, eu preciso estar dentro do mundo dela. Tento me atualizar sobre os meios de comunicação, Facebook, Twitter, WhatsApp. Como sacerdote, tenho que me utilizar sobre isso para ir ao encontro deles", afirma Jean.

Ele afirma que cada padre deve moldar sua forma de atuar de acordo com o contexto em que vive. "Meu sacerdócio não vai ser melhor nem pior do que os de outros anos, vai ser diferente. Hoje, nós enfrentamos outros conflitos, outras descobertas. Meu anseio é corresponder a isso", reflete Jean Fernandes.

VANESSA MADEIRAREPÓRTER

FIQUE POR DENTRO
Ordenação ocorreu na Catedral
A cerimônia de ordenação presbiteral dos oito diáconos cearenses foi realizada, ontem, na Catedral Metropolitana, no Centro da Capital. A celebração foi comandada pelo arcebispo de Fortaleza, dom José Antônio Aparecido Tosi Marques. Os futuros sacerdotes já têm marcadas as datas e horários das primeiras missas, em dezembro:

Diácono Evanilson Raquel de Oliveira: hoje, às 19h, na Paróquia de Baturité

Diácono Francisco Alexandre Alves: hoje, às 10h, na Paróquia do Jereissati I, Maracanaú

Diácono Carlos Daniel Pereira: dia 25, às 10h, na Paróquia da Parangaba.

Diácono Leonardo Dornelles de Almeida: dia 25, às 19h, no Shalom da Paz, bairro Aldeota

Diácono Francisco das Chagas Martins: dia 26, às 19h, na Paróquia do Carlito Pamplona

Diácono José Almir Jucá Júnior: dia 30, às 19h, na Paróquia de Maracanaú

Diácono Jean Fernandes Costa: dia 29, às 19h, no Shalom da Paz, no bairro Aldeota

Diácono Francisco dos Santos Monteiro: dia 21, às 19h, na Capela de Lago de Dentro, Sucatinga


Fonte: Diário do Nordeste

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